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NOTÍCIAS       1992       Março
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Obs.: Notas críticas de rodapé por Rodolfo Huhn e não representam necessariamente a posição do GDPAPE.
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Fontes: Estadão - Política
LEONE INTERFERE EM NEGÓCIOS DA ESTATAL - O secretário de Assuntos Estratégicos influencia a nomeação de funcionários e tenta afastar atual presidente Ernesto Weber
Publicado: Estadão - Impresso 22.03.1992 Pág. 4
por Suely Caldas e Rosane de Souza


RIO - Três empresas instaladas no luxuoso prédio da torre do shopping Rio-Sul - Edubra do Brasil, Pollo Petróleo e Tecnape - e alguns homens em postos chaves na direção da Petrobrás fazem parte de um cuidadoso esquema arquitetado pelo secretário de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leone Ramos para sustentar operações de venda de derivados de petróleo bastante rentáveis para quem as concretiza, mas altamente nocivas aos cofres da estatal.
Importante executivo do esquema PP - assim denominado entre as empresas que negociam com a Petrobrás o esquema de Pedro Paulo (PP) Leone Ramos -, o ex-superintendente comercial, Hamilton Albertazzi, foi afastado do cargo, em dezembro passado, porque o então diretor comercial. Maurício Alvarenga, levantou suspeitas sobre as operações por ele conduzidas, tendo-as classificadas de "no mínimo duvidosas". Um mês e alguns dias depois o próprio Alvarenga deixava o posto por recomendação de Leone. que perdera um de seus homens - Albertazzi - com a denúncia do ex-diretor comercial. Perdeu um, mas sua influência na estatal permitiu que indicasse dois novos diretores: Izeusse Dias Braga Júnior, para a área comercial, e Armando Vieira Neto, para o departamento financeiro.
Na década de 80, Izeusse trabalhou nos escritórios da Interbrás em Buenos Aires e na Cidade do México com o técnico Dilson Duarte, boje o principal trader da Pollo Petró!eo. Hamilton Abertazzi passou a andar com mais desenvoltura na sede da Pollo, Tecnape e Edubra, depois que deixar a superintendência comercial da Petrobrás. Segundo informações de operadores na área de comercialização de petróleo, Dilson e Albertazzi teriam realizado no ano passado cinco operações de over-price (preço acima do normal) de venda de derivados de petróleo por intermédio da Pollo. envolvendo a empresa norte-americana Coastal. A Pollo e a Edubra são dirigidas por Sérgio Rocha, que tem relação de parentesco com Pedro Paulo Leone e é seu representante no Rio de Janeiro.
Anti exemplo - - O caso BR, escândalo da venda irregular de ações da BR-Distribuidora ocorrido na época em que o general Albérico Barroso Alves dirigiu a Petrobrás no governo Sarney - serviu de exemplo para a equipe de Leone Ramos sobre o que não se deve fazer. Daí o cuidado de montar ama estratégia que consiste em cooptar funcionários da Petrobrás e com apoio técnico, dar sustentação aos negócios com pouca margem de risco. O esquema começou a ser arquitetado a partir da indicação, por Leone, de Alfeu Valença para a presidência da Petrobrás, em abril do ano passado.
Na época, o secretário mandou um emissário, o advogado João Muniz de Oliveira Alves, com escritório na Avenida Rio Branco, entrevistar funcionários da Petrobrás. Na entrevista, João Alves levantava suspeitas contra eles, sugerindo que poderiam ser demitidos, mas se aderissem ao esquema PP, ficariam livres de qualquer processo. Foram também induzidos a assinar um papel em branco que, ameaçava o advogado, poderia se transformar em carta de demissão. Três funcionários entrevistados estão hoje em cargos de direção na estatal: Izeusse Braga Jr., da área comercial; Raul Mosman, do se-tor de exploração e produção; e José Brito Oliveira, do departamento de engenharia. Além deles, estiveram também com o advogado: o atual diretor da Braspetro. Márcio Weber; Wagner Freire, chefe do escritório da estatal em Houston (EUA); Walter Formosinho, secretário-geral da Petrobrás; Laerte Rocha Pires, chefe de gabinete de Raul Mosman: e ainda o ex-presidente Alfeu Valença e o ex-superintendente comercial Hamilton Albertazzi. Tais contatos foram relatados e confirmados ao Estado por alguns funcionários da Petrobrás que chegaram a ir ao encontro de João Alves, mas rechaçaram seu assédio.
Com exceção de Alfeu Valença e Albertazzi, afastados de seus cargos, todos os outros entrevistados ocupam hoje postos na Petrobrás. Comenta-se na empresa que Leone pretende colocar na presidência da estatal Raul Mosman, em substituição ao atual, Ernesto Weber, protegido do ministro da Infra-Estrutura, João Santana. Weber não aderiu ao esquema PP e tem resistido a todas a investidas. Para isso tem o apoio de Santana.


Empresas têm mesmo endereço RIO - A Edubra Comércio Internacional, a Pollo Petró-leo e a Tecnape são as empresas ligadas ao esquema montado pelo secretário de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leone Ramos, para realizar operações com a Petrobrás. As três estão instaladas em di-ferentes escritórios de um mesmo endereço: a Torre do Rio-Sul. no bairro carioca de Botafogo.
A Eduarda do Brasil (Edubra) - que empresários do setor de petróleo comentam ser uma homenagem a ama das filhas de Leone -. ocupa a sala de número 3801. As outras duas, de instalações mais modestas. estão em escritórios separados, mas no mesmo 43º andar da Torre, que se ergue sobre o shopping Rio-Sul,
Funcionários da Petrobrás revelam que a Pollo Petróleo seria a operadora de óleo da Edubra, A Pollo. por exemplo, teria realizado uma operação de venda de gasolina por intermédio da empresa norte-americana Coastal, pertencente ao texano Oscar Wyatt. conhecido no mercado internacional por suas transações com Saddam Husseim, ditador iraquiano.

Estranhas ligações - Um dos sócios da Pollo, Valmir Pereira, desconversa e alega conhecer a Edubra apenas de nome: "Ela nâo tem nenhuma ligação conosco". A Edubra, porém, tem ligações tão estreitas com a Petrobrás como a Polio. Archibaldo Pereira da Rocha, pai de Sérgio Rocha, principal executivo da Edubra, foi nomeado diretor da fábrica de borracha sintética da Petrobrás, a Petroflex, pelo atual diretor financeiro da Petrobrás, Armando Vieira. Segundo funcionários da empresa, Archibaldo estaria deixando o cargo para se submeter a uma cirurgia no exterior.
O escritório da Edubra fica quatro andares abaixo da sede da Marc Rích do Brasil Comércio e Exportação, trading estrangeira que já teve ligações comerciais com a Petrobrás, por meio da Interbrás, subsidiária da estatal, atualmente em processo de liquidação judicial.
A Marc Rich ocupa as salas 4101 e 4102 da Torre, onde um segurança se encarrega de afastar os visitantes inoportunos. Ele, porém, conduz a repórter para os escritórios da Edubra, embora afirme desconhecer o nome das pessoas procuradas; "Não é da Edubra? Um funcionário nosso acabou de descer para lá. Eles vivem de lá pra cá. As empresas são muito ligadas", afirmou o segurança.

Familiaridade - Apesar da negativa do diretor Walmir Pereira, os funcionários da Edubra demonstram familiaridade com a Pollo. A recepcionista costuma encaminhar visitantes para a Pollo quando não sabe informar sobre as pessoas procuradas. "Deve ser na Pollo". respondeu quando indagado sobre alguém, um nome fictício.
Até há pouco tempo, a Pollo ocupava as mesmas instalações da Tecnape, braço de engenharia da Edubra, segundo porteiros da.Torre do Rio-Sul. Em meio a esse emaranhado relacionamento comercial, o ex-superintendente comercial da Petrobrás, Hamilton Albertazzi, afastado da companhia sob suspeita de realizar operações irregulares com a Pollo, é conhecido na Tecnape como uma pessoa "ligada á Pollo".

Cuidados - Além das ligações comerciais com a Petrobrás, as três empresas não gostam de visitas de pessoas desconhecidas. Há um ano, por exemplo, a recepcionista da Edubra, costumava perguntar, antes de revelar o nome da empresa ao telefone: "Como você nos descobriu?" Ao atender os interfones da Pollo e da Tecnape, as recepcionistas dessas empresas também perguntam com quem a pessoa quer falar, evitando citar os nomes das duas firmas.
A secretária do escritório do advogado João Muniz de Oliveira Alves, ligado a Pedro Paulo Leone, também costuma seguir este mesmo esquema: alega que Oliveira Alves não existe. O advogado foi o responsável pelas "entrevistas" com os funcionários da Petrobrás que participariam do esquema do secretário de Assuntos Estratégicos na empresa. (R.S.)


Negócio rende lucros e gera cumplicidade
RIO - O esquema montado na Superintendência Comercial da Petrobrás passava pela intermediação da Pollo Petróleo, uma das empresas ligadas ao secretário de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leone Ramos. Firmas com anos de experiência no ramo estranharam quando começaram a receber instruções daquela superintendência, indicando que só poderiam vender seus produtos com a intermediação da Pollo, com o aviso de que receberiam uma recompensa.
O ex-superintendente Hamilton Albertazzi, afastado do posto depois das acusações de irregularidades, e seu adjunto Wagner Fracassi encarregavam-se de "orientar" as empresas neste sentido. Com o afastamento de Albertazzi o esquema mudou e duas delas - a Petroquímica Argentina S/A e a Isaura, ambas argentinas - ficaram satisfeitas ao saber que poderiam vender nafta e produtos químicos diretamente á Petrobrás.
Conduzidos com habilidade e sobretudo com a cumplicidade de funcionários da Petrobrás, os negócios de compra de petróleo podem render lucros milionários, dado, o elevado volume de cada contrato. Um over-price de apenas 20 centavos de dólar pode render para o intermediário de um carregamento de 200 mil barris de óleo bruto (capacidade mé-dia de carga dos petroleiros transatlânticos) pelo menos US$ 40 mil. A malha de cumplicidades se estenderia a um conjunto maior de pessoas. Quando Albertazzi encontrava resistência do corpo técnico, tentava afastar os resistentes, sob alegação de problemas administrativos. Nem sempre teve sucesso, mas chegou a destituir o chefe da divisão de petróleo bruto. Há quase dois meses nessa função, Izeusse Braga ainda não fez mudanças, mas os funcionários esperam substituições para breve. (R.S.)

N.daR.:
* Fonte primária: O Estado de São Paulo
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